Potencialidades e fragilidades do manejo da obesidade infantil na perspectiva dos profissionais da Atenção Primária à Saúde

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As prevalências de excesso de peso e obesidade entre crianças e adolescentes é crescente no Brasil e no mundo. As estimativas apontam que 34% das crianças e adolescentes (0 a 19 anos) estejam com excesso de peso no Brasil. Muitas crianças são acompanhadas na Atenção Básica à Saúde (APS), por isso, considerar a qualificação profissional e implementar medidas intersetoriais efetivas se tornam uma importante forma de promover atenção integral a saúde, prevenir e combater as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) em indivíduos que utilizam o Sistema Único de Saúde (SUS).

Diante do exposto, um trabalho teve como objetivo identificar potencialidades e fragilidades do manejo da obesidade infantil na perspectiva dos profissionais que atuam na APS no município de Betim – Minas Gerais. Esse trabalho faz parte do estudo intitulado “Manejo da Obesidade Infantil no Contexto da Atenção Primária à Saúde: uma abordagem baseada na intervenção intensiva de múltiplos componentes”.

Para isso, realizou-se uma pesquisa descritiva e qualitativa, através de grupos focais com os profissionais que atuam na APS. Participaram 14 profissionais, dentre eles médicos, psicólogos, profissionais de educação física, técnicos de enfermagem e nutricionistas. Os profissionais responderam um questionário online e participaram de uma videoconferência para uma entrevista guiada, abordando questões referentes ao aumento da prevalência da obesidade, questões sociais e ambientais, que perpassam o indivíduo e suas escolhas.

Dentre os profissionais avaliados, predominaram aqueles de educação física (42,8%) e nutrição (35,7%), majoritariamente do sexo feminino (78,57%) e pós-graduados (92,86%), e com uma mediana de idade de 38 anos. Metade dos profissionais relataram ser efetivo/estatutário, 28,57% tinham jornada de trabalho de 40 horas semanais e 35,71% atuavam na APS há mais de 3 anos.

Foram identificadas sete categorias relacionadas a percepção dos profissionais quanto às fragilidades, problemas e as demandas do serviço no manejo da obesidade infantil. Essas categorias são:

Reflexos da obesidade infantil – refere-se à percepção dos profissionais quanto aos resultados do não tratamento da obesidade infantil, sua multicausalidade e impactos na vida adulta, como o desenvolvimento das DCNT. Esses profissionais apontam para a dificuldade no tratamento, diagnóstico tardio e ações de prevenção da obesidade na infância, que devem ir além de um cuidado pontual.

Repercussões da pandemia – trata do impacto da pandemia nas ações desenvolvidas no serviço, como no cuidado com os usuários, mudanças de hábitos e as novas formas de trabalho no SUS. Muitos profissionais se atentaram para piora das condições financeiras dos usuários e aumento da ansiedade nas crianças no período pandêmico.

Serviços de saúde – estão relacionados aos fatores internos e externos que influenciam o funcionamento e a efetividade do serviço prestado. Dessa categoria, emergiram duas subcategorias, que se referem a adesão do público infantil no serviço (relatando uma procura dos cuidadores para tratamento de doenças agudas e não tendo a obesidade como uma motivação, além de atividades realizadas em horário comercial e escolar, o que dificulta a participação das crianças e dos pais) e os processos de trabalho, como a organização do trabalho, o fluxo de encaminhamentos e atendimentos (dando destaque para trocas de gestão e rotatividade de profissionais, o que gera a descontinuidade do trabalho, a baixa priorização das ações para o público infantil e a falta de estrutura e condições de trabalho).

Impacto no tratamento da obesidade infantil – apontam questões que melhoram e que dificultam a adesão ao tratamento, emergindo três subcategorias referente às ações educativas que podem ser desenvolvidas com o público infantil para melhorar a adesão e também com os cuidadores para promover hábitos saudáveis, como rodas de conversas, jogos, brincadeiras e esportes; trabalho em equipe, com expectativas, percepções e experiências do trabalho e a comunicação entre profissionais; e conscientização dos pais e cuidadores sensibilizando para importância do tratamento.

Escola: espaço de promoção da saúde – reflete sobre a escola como importante espaço formação de hábitos alimentares saudáveis de um grupo maior de crianças, o espaço físico, a disponibilidade de alimentos e o apoio de atendimento via Programa Saúde na Escola;

Obesidade infantil: contexto – aborda a multicausalidade da obesidade e o contexto em que as crianças estão inseridas, apontando para a invisibilidade das crianças com obesidade, a obesidade não ser vista como condição que exige atenção e tratamento e a alta preferência por alimentos ultraprocessados pelo público infantil.

Ambiente considera características do ambiente alimentar, como acesso financeiro aos alimentos (condições socioeconômicas dos indivíduos que impactam nos hábitos alimentares e no acesso a alimentos saudáveis); características dos espaços para atividade física (relatos da dificuldade de espaços adequados para prática de atividade física, com segurança e redução do tempo de tela pelas crianças); e o ambiente doméstico (relação dos cuidadores com as crianças no domicílio, indisponibilidade de tempo nos cuidados com as crianças e na contribuição promoção de um estilo de vida saudável).

A partir das análises das categorias e subcategorias que emergiram das falas dos profissionais, esse trabalho apresenta potencialidades e fragilidades do manejo da obesidade infantil na APS. A escola se apresentou como uma potencialidade para trabalhar com um maior grupo de crianças e promover hábitos alimentares saudáveis, ampliando a adesão por esse público. No entanto, foi observado um maior número de fragilidades que precisam ser tratadas e consideradas na perspectiva da obesidade infantil.

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