A obesidade infantil é uma grande preocupação de saúde pública, por sua associação com doenças crônicas e desfechos adversos de saúde mental na idade adulta. Identificar tendências na prevalência da obesidade é fundamental para reconhecer subgrupos de jovens vulneráveis e áreas-alvo para intervenção.
Diante disso, este estudo teve como objetivo investigar as mudanças ocorridas e apresentar estimativas atualizadas da prevalência de obesidade e de obesidade grave entre alunos das escolas públicas de Nova York (NYC) longo dos anos letivos de 2011-2012 a 2019-2020, com foco específico na análise de tendências de 2016–2017 a 2019–2020. As tendências foram avaliadas considerando as disparidades raciais e socioeconômicas, visto que a maioria dos alunos de escolas públicas de NYC se identifica como negra ou hispânica e mais de 70% dos alunos são economicamente desfavorecidos. Assim, este estudo buscou caracterizar melhor a prevalência e as disparidades da obesidade entre crianças em NYC antes do período da COVID-19.
Para isso, foi realizado um estudo retrospectivo com análise de dados de saúde e registros escolares de alunos de escolas públicas de NYC, incluindo crianças e adolescentes do ensino fundamental e médio. Os dados foram obtidos do NYC Office of School Health (OSH), que supervisiona um sistema de vigilância utilizado para monitorar a obesidade infantil, utilizando dados coletados pelo programa NYC Fitnessgram. Esses dados contêm medições anuais de altura e peso infantil para alunos de escolas públicas de ensino fundamental e médio com idades entre 5 e 15 anos. A população do estudo incluiu alunos do ensino geral, excluindo aqueles em escolas de educação especial. As medidas de obesidade foram baseadas no Índice de Massa Corporal (IMC), categorizado conforme as diretrizes do Centers for Disease Control and Prevention (CDC).
Foram coletados dados demográficos, raça/cor, idioma e status socioeconômico dos alunos. Os desfechos primários foram obesidade e obesidade grave, classificadas usando percentis de IMC específicos para idade e sexo com base nos gráficos de crescimento do CDC. Especificamente, 2.142.860 medições válidas de IMC de 866.341 alunos foram incluídas. A maior parte da amostra compreendeu alunos do sexo masculino, hispânicos, nascidos nos EUA, que falava inglês ou espanhol. Cerca de metade vivia em bairros pobres ou muito pobres.
Prevalência de obesidade 2011-2012 a 2019-2020: observou-se uma diminuição geral de 2,8%, que foi significativa entre as mulheres, mas não entre os homens. Essa diminuição foi observada entre estudantes asiáticos, brancos, do ensino fundamental, nascidos nos EUA, e que que viviam em bairros ricos ou muito ricos, mas não entre os que moravam em bairros pobres ou muito pobres. Houve aumento na prevalência entre estudantes negros, hispânicos e estrangeiros e alunos do ensino médio.
Prevalência de obesidade 2016-2017 a 2019-2020: observou-se um aumento geral de 3,5% no período. As mulheres tiveram um aumento relativo menor na obesidade em comparação com os homens. Aumentos significativos foram observados em negros, hispânicos e brancos, mas não em asiáticos. Embora os estudantes de bairros ricos ou muito ricos tenham experimentado um aumento na prevalência, aumentos maiores foram observados em estudantes de bairros pobres ou muito pobres.
Prevalência de obesidade grave 2011-2012 a 2019-2020: observou-se uma diminuição geral de 0,2%. Entre os homens estudantes de bairros pobres e muito pobres, esta prevalência aumentou significativamente. A redução ocorreu significativamente entre os alunos brancos, mas entre os alunos negros e hispânicos a tendência foi de crescimento. A diminuição foi significativa entre falantes de inglês, mas houve aumento entre falantes de espanhol. Observou-se também uma redução na obesidade grave entre alunos nascidos nos EUA, no entanto, houve aumento entre alunos nascidos no exterior.
Prevalência de obesidade grave 2016-2017 a 2019-2020: a prevalência de obesidade grave aumentou significativamente em 6,7%, com aumentos significativos observados entre os subgrupos de gênero, bairro de origem e local de nascimento, mas não entre os alunos brancos ou alunos que falavam uma língua diferente do inglês ou espanhol em casa. A prevalência de obesidade grave permaneceu consistentemente mais alta em estudantes do sexo masculino, que experimentaram mais do que o dobro do aumento relativo das mulheres. Além disso, em todos os subgrupos de raça/etnia, exceto os estudantes brancos, a obesidade grave aumentou significativamente, sugerindo uma aceleração das disparidades raciais/étnicas já crescentes.
Notavelmente, enquanto análises anteriores, incluindo dados de 2011-2012 a 2016-2017, encontraram maiores reduções na prevalência entre alunos brancos e nascidos nos EUA, este estudo mostrou tendências crescentes entre alunos negros, hispânicos e estrangeiros a partir de 2016, as quais revelaram um crescimento das disparidades raciais/étnicas e socioeconômicas. Essas descobertas destacam a necessidade de implementação de maiores esforços de prevenção da obesidade centrados na equidade.