O Guia Alimentar para a População Brasileira fornece diretrizes oficiais para uma alimentação saudável, com o objetivo de promover a saúde e prevenir doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Suas recomendações refletem as mudanças nas condições nutricionais da população brasileira e são baseadas em evidências científicas robustas. Além disso, introduzem um novo paradigma ao considerar o impacto do processamento industrial dos alimentos na relação entre dieta e saúde.
Apesar do reconhecimento de sua importância como ferramenta orientadora para políticas e ações relacionadas a nutrição no sistema de saúde, ainda há desafios na implementação dessas diretrizes na prática clínica, tanto para profissionais de saúde em geral quanto para nutricionistas. Esses desafios decorrem da dificuldade em transformar as recomendações gerais em prescrições dietéticas individualizadas. A incorporação das diretrizes do Guia Alimentar na prática clínica exige um entendimento amplo da alimentação como parte do contexto social, econômico e cultural dos indivíduos.
Dado que uma alimentação inadequada é um dos principais fatores de risco para o aumento das DCNT, é fundamental desenvolver estratégias eficazes para que os profissionais de saúde possam incorporar essas diretrizes na prática clínica. Nesse sentido, um estudo teve como objetivo apresentar duas estratégias inovadoras para auxiliar nessa implementação: os Protocolos Baseados no Guia Alimentar para Orientação Dietética Individual e os Planos Alimentares Baseados no Guia Alimentar.
Os Protocolos são protocolos clínicos padronizados pioneiros desenvolvidos para auxiliar os profissionais de saúde a fornecer aconselhamento nutricional durante consultas individuais. Os protocolos consistem em ferramentas padronizadas que permitem a avaliação do consumo alimentar e facilitam a priorização de recomendações nutricionais por meio de um fluxograma estruturado, tornando o aconselhamento alimentar mais individualizado e eficaz. Os protocolos são organizados em 5 fascículos, cada um deles fornecendo orientações alimentares para uma fase específica da vida: adultos, idosos, adolescentes, crianças de 2 a 10 anos e gestantes.
Já os planos alimentares se diferenciam dos modelos tradicionais por priorizarem padrões alimentares saudáveis em vez do foco exclusivo em nutrientes, incentivando o consumo de alimentos in natura ou minimamente processados e respeitando a cultura alimentar brasileira. Os Planos Alimentares Baseados no Guia Alimentar consistem em prescrições alimentares personalizadas que compreendem menus diários estruturados que priorizam padrões alimentares gerais guiados pelo Guia Alimentar. A proposta incentiva a seleção de uma variedade de preparações culinárias baseadas em alimentos in natura ou minimamente processados, enfatizando escolhas saborosas, acessíveis e culturalmente apropriadas como o passo inicial. Como segundo passo, esses planos podem ser personalizados para as necessidades energéticas individuais e ajustes feitos com base nas necessidades estratégicas de nutrientes.
A aplicação das diretrizes do Guia Alimentar para a População Brasileira na prática clínica pode ser um desafio, mas o uso dessas estratégias oferece ferramentas concretas para os profissionais de saúde, permitindo um aconselhamento mais eficaz, que considera o contexto social e cultural da alimentação, promovendo mudanças sustentáveis nas práticas alimentares dos indivíduos.
Os protocolos são especialmente úteis para profissionais da atenção primária, enquanto os planos alimentares personalizados ajudam na prescrição de dietas mais equilibradas e alinhadas às diretrizes por nutricionistas. A adoção dessas estratégias pode aprimorar a prática dos profissionais de saúde, tornando as orientações nutricionais mais acessíveis e alinhadas às necessidades da população. Dessa forma, a implementação do Guia Alimentar na rotina clínica tem o potencial de contribuir significativamente para a melhoria da qualidade da dieta e a redução da carga de doenças relacionadas à alimentação inadequada no Brasil.