Estigma do peso e preferências de uso de linguagem centrada no paciente

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O manejo da obesidade como doença crônica é desafiador e envolve cuidados nas esferas do paciente, dos sistemas de saúde e da comunidade. Neste contexto, as intervenções começam com interações entre o paciente e profissionais de saúde ou entre o paciente e o sistema de saúde.

O atendimento clínico é um componente importante da intervenção visto que pode agravar ou aliviar o estigma do peso já internalizado pelo paciente, bem como estimular ou desestimular mudanças positivas no estilo de vida ou a adesão a terapêutica medicamentosa, quando indicada. Estudos prévios que avaliam a comunicação entre paciente e profissionais de saúde no contexto de intervenções para o controle de peso, revelaram que muitos pacientes com obesidade vivenciam o estigma do peso ao interagir com os profissionais ou sistemas de saúde.

As atitudes e comportamentos negativos em relação ao paciente podem incluir: menor comunicação centrada no paciente devido à crença de que os pacientes com obesidade têm menor probabilidade de aderir aos tratamentos; espaços e equipamentos inadequados para recepção e avaliação de pacientes de todos os tamanhos; e comportamentos estereotipados que associam a obesidade a percepções de preguiça. Tais atitudes e comportamentos têm sido apontadas como prejudiciais e responsáveis pelo atraso na busca por ajuda profissional, diminuição na adesão às recomendações dos profissionais e menor probabilidade de perda de peso.

Diante deste cenário, o estudo apresentado teve como objetivo entender como os pacientes com sobrepeso ou obesidade de um grande centro médico acadêmico dos Estados Unidos percebiam suas experiências anteriores de cuidados, com foco no estigma do peso e suas preferências pelo uso da linguagem centrada no paciente no contexto do tratamento do excesso de peso.

A pesquisa foi conduzida no hospital escola da Oregon Health and Science University (OHSU), com delineamento transversal e avaliou 16.758 pacientes atuais e antigos que foram convidados por email para responder aos questionários on-line da pesquisa. O questionário consistiu em 15 itens, incluindo perguntas sobre aspectos demográficos, insegurança alimentar, além de perguntas sobre comunicação e assistência ao paciente. Adicionalmente, 3 perguntas abertas foram incluídas: (1) “em suas próprias palavras, o que te deixou desconfortável quando o profissional de saúde mencionou o controle de peso?”; (2) “em suas próprias palavras, por que você fica desconfortável ao mencionar o seu peso para o profissional de saúde?” e (3) “há mais alguma coisa que você gostaria que soubéssemos sobre assistência médica relacionada a seu peso?”.

Dos 16.758 participantes, 3.219 completaram a pesquisa e forneceram 957 respostas em texto livre para análise qualitativa. Os entrevistados eram predominantemente do sexo feminino (57,9%), brancos (87,4%), casados (61,1%) e tinham um médico de atenção primária que visitam regularmente (92,6%). Segundo o Índice de Massa Corporal (IMC), 2,3% tinham baixo peso, 30,4% eutrofia, 31,5% sobrepeso e 35,9% obesidade.

Independentemente da classificação do IMC, a maioria dos participantes preferiram estilos de comunicação diretos, claros e empáticos. Entretanto, as mulheres com sobrepeso e obesidade grau 1 eram mais propensas a preferir comunicação aberta e direta em comparação com aquelas com obesidade grau 2 e 3. Quanto maior o IMC, maior era a preferência por uma comunicação mais gentil e lenta.

Ter obesidade grau 3 foi associado a mais visitas médicas canceladas ou atrasadas, especialmente entre as mulheres. Essa diferença entre o sexo pode ser motivada por experiências diferenciais em relação ao estigma de peso, que culminam em uma maior internalização do estigma entre pacientes do sexo feminino em comparação ao sexo masculino.

A análise qualitativa gerou 27 temas, agrupados em 3 domínios: (1) obstáculos emocionais, definidos como reações emocionais às questões relacionadas ao peso que dificultam o progresso no manejo do peso; (2) obstáculos perceptivos, definidos como experiências reais ou percebidas que dificultam o progresso no manejo do peso; e percepção de ajuda, definida como experiências reais ou percebidas que ajudaram os pacientes no manejo do peso. Os achados qualitativos indicaram que, quando alguns pacientes comparecem às consultas com preocupações não diretamente relacionadas ao peso, pode ser estigmatizante e desconfortável quando os profissionais centralizam o tema do manejo do peso no atendimento. Neste contexto, incluir informações sobre a relação entre o manejo do peso e a queixa principal do paciente pode ajudar a reduzir a sensação de estigma.

Pouquíssimos indivíduos com obesidade (1–3%) não queriam discutir o manejo do peso com seus profissionais de saúde. Em contraste, um número elevado de participantes (73% daqueles com sobrepeso e 34% daqueles com obesidade) indicou que nunca havia discutido o manejo do peso com seus profissionais. Adicionalmente, os pacientes raramente se lembram de os profissionais abordarem fatores além da atividade física, que tem um papel relativamente menor no manejo do peso em comparação com padrões alimentares e fatores sociais, por exemplo.

Assim, recomenda-se fortemente que os profissionais de saúde, com o consentimento do paciente, incluam cada vez mais o tema do manejo do peso em seus atendimentos e o abordem de maneira mais direta, considerando o impacto positivo que essas discussões podem ter na perda de peso. Os autores sugerem que pesquisas futuras devem avaliar, tanto a perspectiva dos pacientes quanto a dos profissionais sobre conversas relacionadas ao peso para melhor compreender essa questão. Ademais, é necessário o treinamento dos profissionais de saúde para aumentar tanto a confiança quanto a sensibilidade na comunicação eficaz sobre o manejo do peso.

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