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Embora o excesso de peso corporal no início da vida seja considerado um risco para a saúde no futuro, a obesidade tem sido cada vez mais apontada como uma doença crônica complexa com impactos imediatos na saúde física e mental de crianças e adolescentes, estando associada a doenças e disfunções graves antes da idade adulta (dentre as quais, doença hepática gordurosa associada ao metabolismo, hipertensão e diabetes). Ainda que o peso normal em nível populacional seja o objetivo principal, é importante identificar entre os grupos populacionais àqueles que apresentam predominantemente sobrepeso e obesidade, considerando que cada estágio do excesso de peso demanda um equilíbrio diferente entre as respostas de saúde pública e as respostas clínicas.

Dentre os relatórios que descrevem as mudanças na epidemiologia da obesidade e as transições do excesso de peso ao longo do tempo, poucos desagregam as estimativas ao longo da infância e adolescência e separam o sobrepeso da obesidade. O desmembramento dessas informações é importante para o direcionamento das políticas e respostas dos serviços de saúde.

Nesse sentido, foi desenvolvido um estudo com uma análise abrangente das mudanças na prevalência do sobrepeso e da obesidade, utilizando dados antropométricos medidos e auto relatados de 180 países e territórios, além de relatórios e da literatura publicada. O estudo foi baseado na metodologia do Global Burden of Diseases (GBD), que compila dados de saúde global estratificados por regiões e faixas etárias. A partir do modelo do GBD e de dados de cerca de 1.300 fontes biográficas foi estimada a prevalência global, regional e nacional padronizada por idade, de sobrepeso e de obesidade (separadamente) para crianças e adolescentes jovens (de 5 a 14 anos, geralmente na escola e cuidados por serviços de saúde infantil) e adolescentes mais velhos (de 15 a 24 anos, cada vez mais fora da escola e atendidos por serviços para adultos) por sexo para 204 países e territórios para o período de 1990 a 2021. Além disso, foi estimada a prevalência de sobrepeso e obesidade para o período de 2022 a 2050.

Os resultados mostraram que em 2021, 18,1% dos indivíduos de 5 a 14 anos e 20,3% dos de 15 a 24 anos viviam com sobrepeso ou obesidade em todo o mundo, o que equivale a 493 milhões de jovens. Isso representa uma duplicação da prevalência desde 1990, quando a prevalência era de 8,8% para indivíduos de 5 a 14 anos e de 9,9% para aqueles de 15 a 24 anos. Durante o mesmo período, a prevalência da obesidade triplicou de 2,0% em 1990 para 6,8% em 2021 para ambas as faixas etárias (aumento de 244,0%), atingindo um total de 174 milhões de crianças e adolescentes em 2021 (93,1 milhões com idades entre 5 e 14 anos e 80,6 milhões com idades entre 15 e 24 anos).

Para todas as crianças e adolescentes, o aumento na prevalência do sobrepeso e da obesidade entre 1990 e 2021 foram mais rápidos no norte da África e no Oriente Médio, América Latina e Caribe de 1990 a 2005. Por volta de 2021, a prevalência da obesidade permaneceu em uma trajetória de rápido crescimento, enquanto o crescimento da prevalência do sobrepeso estava começando a desacelerar na América Latina e no Caribe e no norte da África e Oriente Médio. As mudanças observadas na prevalência da obesidade foram particularmente rápidas no norte da África e no Oriente Médio entre 2010 e 2021.

Em relação às estimativas de prevalência para o período 2022 a 2050, há uma previsão de que cerca de um terço das crianças e adolescentes do mundo terão sobrepeso ou obesidade até 2050, o que equivale a 356 milhões de jovens de 5 a 14 anos e 390 milhões de 15 a 24 anos (total de 746 milhões). Destes, 360 milhões de crianças e adolescentes teriam obesidade até 2050, um aumento de 120,7% na prevalência. Globalmente, prevê-se que 9,1% das pessoas com idades entre 5 e 14 anos terão obesidade até 2030, aumentando para 15,6% ou 186 milhões de indivíduos, até 2050. Apesar de se estimar que haverá aumentos rápidos na obesidade durante o período previsto, prevê-se que a prevalência da obesidade em adolescentes com idades entre 15 e 24 anos permaneça menor do que em crianças e adolescentes mais novos, em 8,7% em 2030 e 14,2%, ou 175 milhões de indivíduos, até 2050. A previsão é de que, em 2050, a prevalência de sobrepeso e obesidade seja maior na América Latina, no Caribe e no Norte da África e Oriente Médio, onde cerca de metade de todas as crianças e adolescentes terão sobrepeso ou obesidade e cerca de um terço terá obesidade.

De acordo com os dados do estudo, tanto o sobrepeso quanto a obesidade aumentaram substancialmente em todas as regiões do mundo entre 1990 e 2021, sugerindo que as abordagens atuais para conter o aumento no excesso de peso falharam com uma geração de crianças e adolescentes. Após 2021, o sobrepeso durante a infância e a adolescência deve se estabilizar devido a novos aumentos na obesidade. Espera-se que os aumentos na prevalência da obesidade continuem para todas as populações em todas as regiões do mundo.

Diante desse cenário, os autores concluem que o compromisso político para transformar a alimentação de todas as crianças e adolescentes dentro de sistemas alimentares globais sustentáveis é urgente. Este deve ser realizado por meio de ações multissetoriais e estratégias multicomponentes efetivas visando os múltiplos impulsionadores da obesidade com destaque para a nutrição, a atividade física, o estilo de vida e o meio ambiente. Além disso, os autores consideram como imperativa e imediata a vigilância nacional da obesidade em crianças e adolescentes, o que permitirá a priorização de investimentos governamentais e respostas dos sistemas de saúde.

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