Alimentos ultraprocessados de origem vegetal e risco cardiovascular

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As doenças cardiovasculares (DCV) são a principal causa de mortalidade prematura global, sendo responsáveis por 18,6 milhões de mortes em 2019. Promover padrões alimentares saudáveis é uma das estratégias mais custo-efetivas para prevenir DCV. Dietas baseadas em alimentos de origem vegetal, que excluem ovos, laticínios, peixe e carne, estão associadas a um menor risco de doenças crônicas e têm menos impacto ambiental.

Dietas modernas à base de plantas podem incluir alimentos ultraprocessados (AUP), como bebidas adoçadas, salgadinhos, produzidos com ingredientes provenientes de plantas e comercializados como substitutos de carne e laticínios, no entanto, o impacto desses AUP na saúde cardiovascular ainda não é bem compreendido. Esses produtos tendem a ser ricos em gordura, açúcar e sal, e pobres em fibras e micronutrientes.

Este artigo investiga o risco cardiovascular associado às dietas à base de plantas, diferenciando entre alimentos vegetais ultraprocessados e não ultraprocessados. Além disso, examina a contribuição de carnes não vermelhas na dieta, diferenciando entre alimentos ultraprocessados e não ultraprocessados, para entender melhor o impacto sobre o risco de DCV e a mortalidade relacionada.

Foram utilizados dados do UK Biobank, um extenso estudo de coorte prospectivo que recrutou mais de 500.000 pessoas com idades entre 40 e 69 anos na Inglaterra, Escócia e País de Gales, entre 2007 e 2010. Os participantes forneceram informações sobre estilo de vida e saúde por meio de questionários e medidas que foram realizadas por profissionais treinados.

O consumo alimentar foi avaliado por um questionário validado, que registrou o consumo de mais de 200 alimentos e bebidas nas últimas 24 horas. Esse questionário foi introduzido entre 2009 e 2010 e os participantes foram convidados a completá-lo em quatro ocasiões distintas entre 2011 e 2012.

Para este estudo, o consumo alimentar dos participantes foi classificado em duas categorias: alimentos de origem vegetal versus animal e, dentro dessas categorias, alimentos ultraprocessados versus não ultraprocessados. A doença cardiovascular foi definida como a primeira internação hospitalar ou morte por causas cardiovasculares, de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID).

Entre os 118.397 participantes (57,1% mulheres), com idade média de 55,9 ± 7,8 anos no início do estudo, aqueles com maior contribuição de alimentos não ultraprocessados de origem vegetal tendiam a ser mais velhos, predominantemente mulheres, não brancos, ex-fumantes ou fumantes atuais, com IMC médio mais baixo, níveis mais altos de atividade física e viviam em áreas menos desfavorecidas. Em contraste, os participantes com maior contribuição de alimentos ultraprocessados de origem vegetal na dieta eram mais jovens, predominantemente homens, não brancos, e apresentavam um IMC médio mais alto, níveis mais baixos de atividade física e eram mais propensos a viver em áreas mais carentes.

A contribuição média de alimentos de origem vegetal na dieta foi de 69,9%, sendo 30,5% não ultraprocessados e 39,4% ultraprocessados. O restante da dieta incluía 21,4% de alimentos de origem animal não ultraprocessados e 8,8% ultraprocessados.

Um aumento de 10% na ingestão de alimentos vegetais não ultraprocessados reduziu o risco de DCV em 7% e o risco de doença coronariana em 8%. Em contraposição, um aumento de 10% na ingestão de alimentos ultraprocessados de origem vegetal aumentou o risco de DCV e doença coronariana em 5% e 6%, respectivamente. A ingestão geral de AUP também foi associada a um maior risco de DCV e doença coronariana. Além disso, um aumento de 10% na ingestão de alimentos vegetais não ultraprocessados reduziu a mortalidade por todas as DCV em 13% e a mortalidade por doença coronariana em 20%. Por outro lado, a ingestão de AUP de origem vegetal foi associada a um aumento no risco de mortalidade por DCV e doença coronariana. A relação entre o consumo de carne não vermelha e o risco de DCV também depende do processamento dos alimentos. A ingestão geral de AUP também se relacionou com maior mortalidade por todas as DCV e doença coronariana, sem evidências de associação entre alimentos vegetais e mortalidade cardiovascular.

Uma dieta rica em alimentos de origem vegetal traz benefícios para a saúde cardiovascular quando baseada predominantemente em alimentos in natura ou minimamente processados. Em contraste, uma alta ingestão de AUP de origem vegetal pode ser prejudicial. Estudos anteriores mostraram que dietas saudáveis de origem vegetal reduzem o risco de DCV, mas não avaliaram claramente o impacto do processamento industrial desses alimentos. Um estudo da coorte francesa NutriNet-Santé revelou que vegetarianos e veganos consomem mais AUP do que carnívoros, principalmente substitutos de carnes e laticínios.

Apesar de serem de origem vegetal, essas dietas ricas em AUP podem representar riscos à saúde devido à sua composição e métodos de processamento. A presença elevada de gorduras prejudiciais, sódio e açúcares adicionados em AUP contribui para problemas como dislipidemia, aterosclerose, hipertensão, resistência à insulina, obesidade e distúrbios metabólicos, que são fatores de risco para DCV. Além disso, a ausência da matriz alimentar intacta nos AUP pode resultar em níveis mais baixos de compostos bioativos benéficos, como polifenóis e fitoesteróis, que estão associados à redução do risco de DCV.

Uma maior ingestão de alimentos de origem vegetal não ultraprocessados está associada a um menor risco de doenças cardiovasculares. Esses resultados destacam a importância de escolher alimentos de origem vegetal considerando seu processamento para melhorar a saúde cardiovascular. Assim, pesquisas futuras e diretrizes dietéticas devem enfatizar não apenas a redução de carnes e alimentos de origem animal, mas também a importância de evitar alimentos ultraprocessados.

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