Apesar do aumento da prevalência da obesidade, os cuidados prestados pelos médicos na assistência aos pacientes portadores desse agravo têm sido considerados insuficientes. As deficiências observadas no aconselhamento das pessoas com obesidade podem ser atribuídas à formação desses profissionais, destacando a educação e os treinamentos insuficientes em nutrição e manejo da obesidade.
Outro fator que pode contribuir para a lacuna no atendimento às pessoas com obesidade é o estigma do peso e a percepção negativa em relação a esses indivíduos entre os médicos. O estigma do peso está associado à baixa autoestima, insatisfação com a imagem corporal e sofrimento psicológico, que impactam negativamente a saúde das pessoas com obesidade. Além disso, o estigma do peso e a percepção negativa podem levar a um tratamento diferenciado por parte dos profissionais em relação ao indivíduo com obesidade dificultando ainda mais o processo de perda de peso nesses pacientes.
Nesse sentido, a residência médica é considerada uma janela estratégica para a abordagem da obesidade e dos aspectos relacionados ao tratamento da doença, visto que os residentes, enquanto médicos em formação, podem ser mais receptivos às mudanças de atitudes e estão mais bem preparados para aprender novas competências. Adicionalmente, compreender as atitudes dos residentes torna-se importante para identificar aspectos relacionados à obesidade que precisam ser melhorados.
Diante desse contexto, foi conduzido um estudo em dois programas de residência médica nos Estados Unidos com objetivo de avaliar as atitudes de 42 residentes médicos em relação à obesidade como doença, às pessoas que vivem obesidade e ao tratamento da obesidade. Para tal, os residentes responderam um questionário adaptado que apresentava questões relacionadas às atitudes positivas e negativas em relação aos aspectos envolvendo à obesidade. As atitudes foram avaliadas em uma escala Likert de 5 pontos: concordo totalmente (5), concordo (4), neutro (3), discordo (2) e discordo totalmente (1).
Os resultados do estudo indicaram que os residentes médicos apresentaram atitudes positivas em relação às pessoas com obesidade, demonstrando empatia e sentindo-se confortáveis ao examinarem essas pessoas. Além disso, reconheceram a obesidade como uma doença crônica associada a comorbidades graves e apontaram a necessidade de orientar os pacientes sobre os riscos da obesidade para a saúde. Reconheceram, ainda, que uma redução de 10% no peso corporal é suficiente para melhorar significativamente complicações de saúde relacionadas à doença.
Apenas uma minoria dos residentes (17%) relatou atitudes negativas em relação à aparência dos pacientes com obesidade. Por outro lado, foi observado que os residentes apresentaram atitudes negativas em relação à sua capacidade de prestar atendimento aos pacientes com obesidade relatando dificuldades no manejo do tratamento e na perda de peso.
O estudo mostrou que os residentes apresentaram atitudes positivas em relação ao indivíduo com obesidade, no entanto, foram observadas lacunas no que se refere às atitudes frente a sua capacidade de prestar atendimento e esses pacientes e a eficácia do tratamento da obesidade. Nesse sentido, a residência médica oferece um cenário propício para o aprimoramento da formação médica, sobretudo, na abordagem da obesidade e do seu tratamento, o que pode tornar esses profissionais mais bem preparados para lidar com os desafios da doença.