Identificação de intervenções efetivas para prevenção da obesidade: Uma revisão guarda chuva

O sobrepeso e a obesidade têm contribuído significativamente para a carga de doenças da população devido a sua associação com condições crônicas complexas, como câncer, diabetes, doenças cardiovasculares, doenças renais crônicas, entre outras. Considerando os impactos econômicos, sociais e na saúde associados a sobrepeso e obesidade, órgãos internacionais e nacionais, incluindo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e o Instituto de Medicina dos Estados Unidos (IOM), lançaram uma série de orientações para apoiar sua prevenção. Dentre essas iniciativas, o Comitê do IOM sobre Aceleração do Progresso na Prevenção da Obesidade identificou cinco áreas críticas para mudanças: Ambientes para Atividade Física, Ambientes de Alimentos e Bebidas, Ambientes de Mensagens, Ambientes de Saúde e Trabalho, e Ambientes Escolares.

Muitas revisões sistemáticas que descrevem o impacto de uma variedade de intervenções de prevenção da obesidade foram realizadas e fornecem evidências sobre os tipos de estratégias que poderiam reduzir o ganho de peso na população. No entanto, a assimilação das informações apresentadas em um grande número de revisões sistemáticas pode ser desafiadora para os tomadores de decisão.

Diante disso, foi realizado um estudo de revisão sistemática do tipo guarda-chuva com o objetivo de consolidar as conclusões de revisões sistemáticas e fornecer uma visão geral da base de evidências atuais, sintetizando a efetividade das intervenções de prevenção da obesidade em crianças e adultos. Além disso, buscou-se mapear as revisões de maior qualidade relacionadas às cinco áreas críticas para mudança no Relatório do Comitê do IOM. A revisão foi conduzida de acordo com recomendações para revisões guarda-chuva, tendo sido pesquisadas as seguintes bases de dados: Medline, Embase, Health Technology Assessment Database, JBI Evidence-Based Practice Database of Systematic Reviews e a Cochrane Database of Systematic Reviews. Revisões sistemáticas publicadas entre 2010 e 2021 que avaliaram os resultados no IMC e/ou zIMC (escore z do IMC) das intervenções de prevenção da obesidade foram consideradas elegíveis.

A busca resultou em um total de 8.371 estudos e após triagem 135 foram selecionados. Das 135 revisões incluídas, 30 revisões que foram avaliadas como descrevendo uma intervenção única e discreta foram sintetizadas de acordo com o Relatório IOM de Aceleração do Progresso na Prevenção da Obesidade. A maioria das revisões incluíram estudos conduzidos principalmente em países de alta renda, como Estados Unidos, Austrália, Reino Unido, Canadá, Nova Zelândia, Bélgica, Israel, Alemanha e países nórdicos.

No domínio dos Ambientes de Saúde e Trabalho, evidências sugerem que intervenções de aconselhamento comportamental focadas em atividade física e/ou dietas saudáveis em adultos têm efeitos positivos. Além disso, intervenções de saúde digital, como telemedicina, estratégias baseadas na web, uso de aplicativos móveis, mensagens de texto e sensores de monitoramento, também se mostraram efetivos na melhoria dos resultados de IMC em adultos nos ambientes de saúde.

O estudo também encontrou evidências significativas de intervenções efetivas no domínio escolar, particularmente aquelas focadas em atividade física e intervenções combinadas de alimentação e atividade física para crianças de 6 a 12 anos. A modificação do currículo de educação física, intervenções educacionais e políticas para melhorar o ambiente alimentar nas escolas também se mostraram efetivas na redução do IMC infantil.

Embora haja avanços nas intervenções escolares e nos ambientes de saúde e trabalho, este estudo também revelou algumas lacunas importantes. Em relação aos Ambientes Alimentares e de Bebidas, por exemplo, não foram encontrados estudos que investigassem a aplicação de padrões nutricionais robustos para alimentos e bebidas em espaços públicos.

Além disso, foram identificadas duas intervenções efetivas que não se encaixam nas categorias descritas pelo IOM, focadas em mudanças comportamentais individuais, como terapias comportamentais isoladas ou combinadas com dietas e exercícios para crianças e jovens adultos. A melhoria do sono, especificamente a intervenção para aumentar a duração do sono em crianças menores de 5 anos, também se mostrou efetiva para melhorar os resultados de IMC.

Em suma, a revisão oferece informações valiosas sobre a efetividade de várias estratégias de prevenção da obesidade e enfatiza a importância de futuras pesquisas para preencher as lacunas na evidência e fortalecer a compreensão de quais intervenções são mais eficazes em diferentes populações e contextos.