Açúcares livres são definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como açúcares adicionados, que incluem todos os monossacarídeos e dissacarídeos adicionados aos alimentos e bebidas pelo fabricante, cozinheiro ou consumidor, e açúcares naturalmente presentes em frutas, sucos de frutas e leite.
A ingestão elevada de açúcares adicionados está associada a uma ingestão energética excessiva, a pior qualidade nutricional da dieta e ao risco de desenvolvimento de obesidade e outras doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Diante deste contexto, a OMS recomenda reduzir a ingestão de açúcares adicionados para menos de 10% da ingestão energética diária, mas sugere que, idealmente, a ingestão deve ser limitada a menos de 5%.
As fontes de açúcares adicionados incluem o açúcar de mesa, um ingrediente culinário processado usado em preparações culinárias e para adoçar alimentos e bebidas, e os açúcares adicionados aos alimentos e bebidas processados e ultraprocessados.
A maior participação de alimentos ultraprocessados na dieta tem sido associada ao maior consumo de açúcar adicionado em diferentes populações. Nesse sentido, um estudo teve como objetivo descrever a evolução da compra domiciliar de açúcares adicionados e suas principais fontes alimentares no período de 2002–2003 a 2017–2018 no Brasil, bem como identificar as fontes que mais contribuíram para potenciais mudanças.
O estudo utilizou dados das Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF) realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos anos de 2002–2003, 2008–2009 e 2017–2018. A amostra foi selecionada por um plano de amostragem complexo, com estratificação geográfica e socioeconômica, envolvendo 48.470 domicílios em 2002–2003, 55.970 em 2008–2009 e 57.920 em 2017–2018. Para as análises, a quantidade total comprada de cada item alimentar foi convertida em valores diários per capita, e os valores de energia foram calculados com base na Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO) e na tabela do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para alimentos ultraprocessados.
O açúcar adicionado foi definido como a soma do açúcar de mesa e dos açúcares adicionados pela indústria a alimentos e bebidas processados e ultraprocessados. Foram analisadas as seguintes variáveis: (1) participação percentual da energia proveniente de açúcares adicionados no total de energia adquirida pelos domicílios, e (2) a fração de energia de açúcares de diferentes fontes no total de açúcar comprado.
Ao longo do período estudado, a compra de açúcar adicionado permaneceu estável entre 2002–2003 e 2008–2009, mas houve uma leve redução em 2017–2018 em comparação com os anos anteriores. No entanto, em todos os períodos analisados, a média da participação dos açúcares adicionados na dieta brasileira foi superior a 10%, tanto no conjunto do país quanto em todos os estratos analisados. A variação na participação do açúcar no total de energia adquirida pelos domicílios foi pequena entre áreas urbanas e rurais, e entre os quintis de renda familiar. A Região Sudeste foi a que apresentou maior participação de açúcar no total de energia, exceto em 2017–2018, quando teve o mesmo valor médio da Região Sul. A Região Norte teve a menor participação em todos os anos.
Além da variação na participação do açúcar adicionado na dieta dos brasileiros entre 2008–2009 e 2017–2018, houve mudanças nas fontes de alimentos que contribuíram para a compra total de açúcar adicionado. Entre 2002–2003 e 2017–2018, observou-se uma redução de 11% na participação do açúcar refinado e outros adoçantes energéticos na compra total de açúcar (de 76,4% para 67,8%). Embora o consumo de refrigerantes tenha permanecido estável entre 2002–2003 e 2008–2009, houve uma redução de 18% na participação desses produtos entre 2008–2009 e 2017–2018 (de 10,3% para 8,4%). Para todas as outras fontes de açúcar (outras bebidas, doces, balas, chocolates, bolos, biscoitos e outros alimentos), houve um aumento significativo na participação no total de açúcar adicionado.
No que diz respeito à distribuição de fontes de açúcar de acordo com a renda, houve diferenças significativas entre os quintis de renda, especialmente para o açúcar refinado, refrigerantes e doces. Por exemplo, em 2017–2018, a participação do açúcar refinado foi de 82,6% nas famílias do primeiro quintil (Q1 – menor renda) e de 54,7% no quinto quintil (Q5 – maior renda), uma diferença de 34%. Para refrigerantes, a participação variou de 4,4% no Q1 a 11,2% no Q5, e para doces, balas e chocolates, a variação foi de 3,4% a 12,9%, com diferenças de 155% e 279%, respectivamente, entre Q1 e Q5.
Ao comparar os valores observados com os valores preditos para 2017–2018, observou-se que a redução nas compras de açúcar adicionado foi principalmente devido à queda no consumo de refrigerantes. Se a participação dos refrigerantes tivesse permanecido no nível de 2008–2009, a participação total de açúcares na energia consumida teria permanecido quase inalterada. Por outro lado, a mudança no consumo de açúcar refinado e adoçantes energéticos não parece ter influenciado significativamente a redução da participação de açúcares na energia total consumida em 2017–2018.
Em síntese, apesar da estabilidade na participação de energia proveniente de açúcar adicionado no total de energia adquirida no Brasil entre 2002–2003 e 2008–2009, houve uma redução dessa participação entre 2008–2009 e 2017–2018, principalmente devido à diminuição do açúcar proveniente de refrigerantes. Monitorar as tendências de consumo é fundamental para conscientizar sobre o cenário do país e orientar as políticas de intervenção mais adequadas para promover uma alimentação saudável.