Fatores sociodemográficos, como idade, sexo, raça/etnia e status socioeconômico, têm sido associados à prevalência de obesidade entre crianças e adolescentes. Entretanto, a maioria dos estudos sobre fatores sociodemográficos relacionados à obesidade infantil apresentam estimativas de prevalência de pontos transversais e há uma quantidade limitada de estudos sobre as tendências mais recentes na prevalência de obesidade entre adolescentes entre 10 e 19 anos nos EUA.
Sendo assim, visando suprir essa lacuna, um estudo com uma amostra nacionalmente representativa da pesquisa NHANES (National Health and Nutrition Examination Survey) de 2007 a 2020 teve por objetivo 1) ilustrar tendências no índice de massa corpora (IMC) médio e prevalência de obesidade entre adolescentes e 2) examinar como os fatores sociodemográficos estavam associados ao IMC médio e à prevalência de obesidade entre adolescentes. A hipótese dos autores era de que os fatores sociodemográficos têm uma associação significativa com o IMC médio e a prevalência de obesidade entre essa população.
O estudo utilizou dados do NHANES de 2007 a 2020, incluindo as ondas de pesquisa transversal para os anos de 2007–2008, 2009–2010, 2011–2012, 2013–2014, 2015–2016 e 2017–2020. O percentil do IMC foi calculado com base nos gráficos de crescimento do CDC (Centers for Disease Control and Prevention) para crianças e adolescentes de 10 a 19 anos de idade.
As variáveis sociodemográficas incluíram idade, sexo (meninas/meninos), raça/etnia e PIR (Poverty Income Ratio) – uma medida da renda familiar em relação às diretrizes de pobreza, que foi determinada pela divisão da renda familiar pelo limite de pobreza específico para o tamanho da família e localização geográfica. Os níveis de renda foram definidos com base no PIR e codificados como baixa renda (PIR <1,3), renda média (PIR ≥1,3 e <3,5) e alta renda (PIR ≥3,5).
A amostra total compreendeu 9.826 adolescentes com idade média de 14,29 anos (DP ± 2,78), dos quais 49,0% eram meninas. O IMC médio aumentou de 22,85 (IC 95%: 22,40–23,29) em 2007–2008 para 23,66 (IC95%: 23,15–24,03) em 2017–2020. Além disso, a prevalência de obesidade aumentou de 20,71% (IC95%: 17,16–24,27) em 2007–2008 para 23,99% (IC95%: 21,31–26,67) em 2017–2020. Nas análises gerais, os resultados revelaram um aumento significativo tanto no IMC médio quanto na prevalência de obesidade de 2007-2008 a 2017-2020.
Neste mesmo período, houve um aumento no IMC e na prevalência de obesidade, particularmente entre adolescentes negros e hispânicos e aqueles de famílias de baixa e média renda. No entanto, não houve mudanças significativas no IMC e na prevalência de obesidade em adolescentes de outras raças e etnias. Além disso, houve um aumento na prevalência de obesidade em ambos os sexos. As meninas tiveram uma probabilidade 12% (Razão de Prevalência ajustada [RPa] = 0,88; IC95%, 0,81–0,96) menor de apresentarem obesidade do que os meninos. Em comparação com adolescentes brancos, os adolescentes negros e hispânicos tiveram 22% (RPa = 1,22; IC95%: 1,06–1,40) e 19% (RPa = 1,19; IC95%: 1,05–1,36) maior risco de apresentarem obesidade. Em comparação àqueles de famílias de alta renda, adolescentes de famílias de baixa e média renda tiveram 62% (RPa = 1,62; IC95%: 1,39–1,90) e 47% (RPa = 1,47; IC95%: 1,24–1,76) maior risco de apresentarem obesidade, respectivamente.
As descobertas do estudo indicaram que a obesidade entre adolescentes continuou a aumentar nos EUA na última década, principalmente em aqueles negros e hispânicos, o que demonstra que apesar dos esforços em políticas de saúde pública e da conscientização crescente, a prevalência da obesidade permanece alta e com tendência de aumento. Os resultados indicam que futuras intervenções devem ter como alvo grupos raciais/étnicos específicos e famílias com menor renda para prevenir o avanço da obesidade. Além disso, torna-se essencial o desenvolvimento de políticas e intervenções que abordem os determinantes sociais da saúde, como o acesso a opções alimentares saudáveis, ambientes seguros para atividade física e iniciativas comunitárias culturalmente apropriadas para apoiar estilos de vida saudáveis.