Enfrentamento aos ambientes obesogênicos

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O Dia Mundial da Obesidade, celebrado em 4 de março, é um dia de ação unificada por uma resposta à epidemia de obesidade. A obesidade é uma das mais preocupantes emergências de saúde pública no mundo. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), desde 1990, a obesidade mais que dobrou em adultos e quadruplicou em adolescentes. Em 2022, 2,5 bilhões de adultos apresentavam excesso de peso, incluindo 890 milhões com obesidade, enquanto 390 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 19 anos apresentavam excesso de peso, dentre os quais 160 milhões com obesidade. O excesso de peso e a obesidade estão associados a outras Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT), como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral, hipertensão e câncer. Estima-se que 1,9 bilhão de pessoas viverão com obesidade até 2035, considerando a duplicação da obesidade infantil em comparação aos níveis de 2020. Nesse contexto, são necessárias ações prioritárias para evitar o agravamento desta emergência de saúde.

O ambiente obesogênico, composto por fatores ambientais que determinam tanto a nutrição quanto a atividade física, é determinantes para o excesso de peso e obesidade, constituindo um alvo importante para ações de prevenção. A disponibilidade e acessibilidade de alimentos saudáveis e de infraestrutura segura para realização de atividades físicas, bem como as normas culturais ou tradições, a influência da mídia e regulamentações, contribuem para o ambiente obesogênico. Em relação as crianças, fatores relacionados ao ambiente escolar, como a influência dos colegas, tempo limitado para educação física, alimentação escolar não saudável e estresse acadêmico também podem influenciar o aumento do excesso de peso entre essa população. Ademais, sabe-se que, os ambientes obesogênicos representam um maior risco para pessoas com maior vulnerabilidade socioeconômica, amplificando as desigualdades nos determinantes do excesso de peso e da obesidade.

O relatório produzido no Reino Unido, pela Food Foundation, revelou que alimentos saudáveis podem custar o dobro por calorias em comparação aos alimentos não saudáveis. Com isto, o quinto mais pobre da população gastaria cerca de 45% de sua renda disponível em alimentos para seguir as diretrizes de alimentação saudável recomendadas pelo governo. Em famílias com crianças, o gasto seria de 70% de sua renda disponível em alimentos. Trata-se de um desequilíbrio trágico e intolerável em relação ao custo dos alimentos comercializados, disponíveis e acessíveis, e os alimentos que são saudáveis e sustentáveis. Logo, as crianças vulneráveis são aquelas que sofrem as piores consequências em seu estado nutricional e de saúde, como destaca Anna Taylor, Diretora Executiva da Food Foundation.

Dessa forma, mudar o foco do indivíduo para os sistemas que causam ambientes obesogênicos torna-se urgente para enfrentamento da epidemia da obesidade. Cabe aos órgãos governamentais delinear e implementar leis, regulamentações e políticas, como impostos sobre alimentos não saudáveis, regulamentação do marketing de alimentos, restrição de posicionamento de alimentos não saudáveis em áreas que estimulem compras impulsivas, e a adoção de rótulos de calorias em menus e da rotulagem frontal dos alimentos industrializados. Além disso, escolas e comunidades devem incentivar e promover estilos de vida saudáveis, como fornecer refeições escolares saudáveis de forma gratuita ou acessível e espaços seguros e adequados para atividades físicas. Os sistemas alimentares também devem ser considerados, com produtores de alimentos, supermercados, restaurantes e serviços de entrega também assumindo a responsabilidade pela qualidade, pelo marketing e pelo preço dos alimentos, criando e promovendo escolhas mais saudáveis.

Atualmente, já existem estratégias para que os países implementem estas leis, regulamentações e políticas. Na 75ª Assembleia Mundial da Saúde, em 2022, os Estados-Membros adotaram recomendações para prevenir a obesidade e apoiaram o Plano de Aceleração da OMS para deter a obesidade, afirmando que “a solução para a epidemia de obesidade é a vontade política, um plano de ação e recursos e compromisso para executá-lo”. Países como México, Arábia Saudita, África do Sul e Reino Unido implementaram impostos sobre bebidas açucaradas, levando à redução das compras e da ingestão de açúcar. Alguns países introduziram a rotulagem frontal de advertência para alimentos com alto teor de açúcar, gordura ou sal. No Chile, esses rótulos, juntamente com a proibição de publicidade direcionada a crianças em alimentos industrializados, também reduziram as vendas desses produtos. Tais ações constituem passos na direção certa, contudo, muito mais precisa ser feito, pois ambientes obesogênicos ainda são prevalentes, e o cumprimento das metas de interrupção do aumento da obesidade ainda está distante em todos os países.

Além de todos os impactos da epidemia da obesidade para a saúde da população, os impactos econômicos também são importantes. Se o cenário não for modificado, os custos globais com o excesso de peso e a obesidade podem alcançar 3 trilhões de dólares por ano até 2030. Diante do custo econômico e dos impactos à saúde e equidade, decisões governamentais e vontade política são essenciais para impulsionar mudanças efetivas nesse cenário. Destaca-se que os países devem aproveitar a oportunidade para enfrentar os ambientes obesogênicos e a epidemia de obesidade como um passo crítico para alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Tradução do texto: “Time to tackle obesogenic environments”

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