O consumo de alimentos ultraprocessados desempenha um papel potencial no desenvolvimento da obesidade e de outras Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Com o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados nas últimas décadas, torna importante compreender seus impactos potenciais sobre desfechos em saúde.
Uma revisão sistemática publicada em 2020 teve como objetivo resumir as evidências relacionadas à associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e desfechos em saúde. Foi realizada uma pesquisa abrangente nas bases PubMed, Embase e Web of Science, para identificação de estudos epidemiológicos, que foram avaliados quanto ao risco de viés e foi realizada síntese narrativa dos resultados.
A estratégia de busca identificou 1165 registros e 563 artigos foram selecionados por títulos e resumos após a remoção de duplicatas. Dos 55 textos completos avaliados, 20 estudos epidemiológicos (12 estudos de coorte e 8 estudos transversais) foram incluídos na revisão sistemática, os quais incluíam um total de 334.114 participantes e 10 doenças relacionadas.
Todos os estudos foram publicados entre 2015 e 2019, com amostra variando de 785 a 109.104 participantes. Seis estudos foram realizados na Espanha, cinco na França, quatro no Canadá, três nos Estados Unidos e dois no Brasil. O acompanhamento médio dos participantes variou de 3,5 a 19 anos nos estudos de coorte. Os estudos abordavam prioritariamente adultos e idosos e a proporção de mulheres variou de 49 a 100%. Diferentes métodos foram utilizados para estimar o consumo de alimentos ultraprocessados, como avaliar a ingestão como a porcentagem da energia total ou selecionar a proporção do peso, estimar os tamanhos das porções usando fotografias validadas, calcular a energia e o peso em relação à ingestão total de alimentos de acordo com bancos de dados de composição de alimentos específicos e calcular a ingestão diária multiplicando o tamanho da porção pela frequência de consumo. Dos 20 estudos selecionados, quatro focaram na mortalidade por todas as causas, dois em doenças cardíacas e cerebrovasculares, dois em síndrome metabólica, cinco em sobrepeso e obesidade e dois em doenças de saúde mental. Os cinco estudos restantes investigaram doenças gastrointestinais, cânceres, desfechos na gravidez, doenças respiratórias e doenças geriátricas.
A revisão indicou uma associação positiva entre o consumo de alimentos ultraprocessados e vários desfechos em saúde, como o risco de mortalidade por todas as causas, doenças cardiovasculares em geral, doenças cardíacas coronárias, doenças cerebrovasculares, hipertensão, síndrome metabólica, sobrepeso e obesidade, depressão, síndrome do intestino irritável, câncer geral, câncer de mama pós-menopausa, obesidade gestacional, asma na adolescência e fraqueza em idosos. Dentre os estudos incluídos, não foi encontrada associação com mortalidade por doença cardiovascular, câncer de próstata e colorretal, diabetes mellitus gestacional e excesso de peso gestacional. Os resultados da revisão estimulam uma diminuição no consumo de alimentos ultraprocessados e um aumento na proporção de alimentos não processados ou minimamente processados, como frutas e hortaliças para a prevenção de DCNT. Os autores concluem que estudos prospectivos em grande escala são necessários para confirmar seus achados e entender melhor os efeitos dos alimentos ultraprocessados.
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