O processo denominado de transição epidemiológica levou ao aumento da expectativa de vida da população mundial, e esse processo acarretou demais mudanças como o aumento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Atuam como fatores de risco para o desenvolvimento de DCNT, o sobrepeso e a obesidade, e para, além disso, estão também associados na população idosa a perda de mobilidade, deficiências, redução no desempenho físico e maior fragilidade.
Estudo investiga excesso de peso e obesidade em idosos
Em 2017, as DCNT representavam 86,6% das causas de mortes em pessoas idosas no Brasil. Esforços do governo nacional têm como foco a prioridade a pessoas idosas no SUS, tais esforços levaram ao maior acesso a medicamentos de tratamento para DCNT, por exemplo. Tendo isso em vista, um estudo teve por objetivo analisar a tendência temporal da prevalência de excesso de peso e de obesidade em idosos vivendo em capitais brasileiras e Distrito Federal de 2006 a 2019.
A série temporal utilizou dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) do Ministério da Saúde do Brasil. Trata-se de um inquérito anual realizado nas capitais do país e Distrito Federal por meio de entrevistas por telefone com pessoas de 18 anos ou mais vivendo em residências com linha telefônica (fixo).
Em cada capital foram selecionados aleatoriamente 5 mil números de telefones. Todos os indivíduos residentes da casa pertencente ao telefone foram listados e apenas um foi sorteado para participar da pesquisa. Aqueles números que após 6 tentativas, não atenderam a ligação, foram descartados. Foram considerados para o estudo, pessoas com 60 anos ou mais entrevistadas no período de 2006 a 2019. Dentre os elegíveis, a taxa de resposta geral foi de 70,4%. A entrevista foi conduzida por um sistema de entrevista telefônica e as respostas eram gravadas. O questionário utilizado tem como base inquéritos telefônicos e que investigam o risco e fatores associados à DCNT.
Dados para avaliar grau de excesso de peso e obesidade em idosos foram coletados entre 2006 e 2009
Além dos dados de peso e altura referidos, usados para classificação do estado nutricional em excesso de peso (sobrepeso ou obesidade) e obesidade em idosos, considerou-se as seguintes características: ano, região geográfica, idade (faixa etária), sexo, escolaridade e ter alguma DCNT. Para analisar essas variáveis, foi realizada uma regressão linear, o excesso de peso e a obesidade foram estimados para cada ano da amostra. O modelo Prais-Winsten de regressão linear foi considerado o adequado para lidar com as tendências de prevalência de excesso de peso e obesidade (desfecho) no período avaliado, ano do inquérito (exposição). Os coeficientes beta representam a taxa media anual de mudanças no período avaliado, se as demais variáveis forem constantes. As variações foram consideradas estatisticamente significantes quando p ≤ 0,05.
Foram analisados 202.049 indivíduos com 60 anos ou mais, destes em sua maioria do sexo feminino (61,2%), pessoas de 60-69 anos (60,6%), com 0-8 anos de estudo (57,9%), com diagnóstico de pelo menos uma DCNT (61,1%) e que vivem nas capitais mais desenvolvidas dos país (70,5%).
A prevalência de excesso de peso no estudo aumentou de 53,7% para 61,4%, de 2006 para 2019, um incremento de 1,09% ao ano, sendo que a taxa se apresenta ainda superior em homens (1,29%/ano), pessoas de 70-79 anos (1,40%/ano), com 9-11 anos de estudo (1,28%/ano) e residentes das capitais menos desenvolvidas dos país (1,51%/ano). Se tratando da prevalência de obesidade, houve um aumento de 16,1% para 23,0%, de 2006 para 2019, um incremento de 2,28% ao ano, sendo a taxa ainda superior em homens, (3,52%/ano), pessoas de 70-79 anos (2,71%/ano), com 9-11 anos de estudo (2,92%/ano) e residentes das capitais menos desenvolvidas dos país (1,51%/ano). As magnitudes predominantes foram observadas na primeira metade do período de estudo (2006-2011), e a prevalência de obesidade depois de 2012 apresentou uma tendência de estabilidade.
Maior prevalência de excesso de peso e obesidade em idosos do sexo feminino
As mulheres registraram maior prevalência de excesso de peso e de obesidade quando comparadas aos homens do estudo, resultado que vai de encontro a demais pesquisas conduzidas no Brasil e em países da Europa, na China e nos Estados Unidos. Trata-se do maior estudo, deste fim, realizado na população idosa, de 60 anos ou mais, no Brasil. De mesma natureza, um estudo anterior comparou dados das Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF) de 2002/3 a 2008/9 e analisou as tendências temporais dos indicadores de estado nutricional na população idosa brasileira, observou aumento da prevalência de excesso de peso em aproximadamente 5% e de obesidade em 4%.
Apesar de inquéritos não permitirem estabelecer uma associação causal, é possível que haja uma relação com o cenário econômico e político e os resultados, que após 2016 resultou no aumento de preços de produtos e serviços, assim como a suspensão de importantes ações (como o aumento do salário mínimo). O Ministério da Saúde, nos últimos anos, a fim de combater as DCNT e promover o aumento da qualidade de vida dentre os idosos, realizou diversas ações, como o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis no Brasil (2011-2022), e prevê a expansão do autocuidado para autonomia e independência do idoso, dentre outras estratégias recomendadas.