Prevenção da obesidade: mudando perspectivas

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O dia 4 de março marca o Dia Mundial da Obesidade, uma oportunidade para refletir e apoiar ações que possam ajudar as pessoas a alcançar e manter um peso saudável. O tema deste ano, “Mudando perspectivas: vamos falar sobre obesidade”, tem como objetivo abordar equívocos, acabar com estigmas e mudar normas. Visões simplistas do peso como uma escolha pessoal ainda permanecem e levam à estigmatização – afetando a confiança, criando barreiras ao acesso a cuidados de saúde e prejudicando a saúde mental e física; enquanto a obesidade é complexa, multifatorial, com fatores contribuintes embutidos nos determinantes mais amplos da saúde.

A obesidade é um sério desafio de saúde pública em todo o mundo e um dos principais determinantes de incapacidade e morte prematura. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o sobrepeso e a obesidade atingiram proporções epidêmicas na região europeia, afetando quase 60% dos adultos e uma em cada três crianças em idade escolar. Nos EUA, 14 milhões de crianças e adolescentes vivem com obesidade. Reconhecendo tal desafio, no início deste mês, a Academia Americana de Pediatria (American Academy of Pediatrics) publicou uma diretriz abrangente sobre avaliação e tratamento de crianças e adolescentes com obesidade. A diretriz recomenda abordagens de tratamento precoce e intensivo, incluindo entrevista motivacional, tratamento intensivo da saúde comportamental e estilo de vida, farmacoterapia e cirurgia bariátrica, se indicado. No entanto, a escassez de programas comportamentais de apoio em todo o país e o tempo substancial e os compromissos financeiros necessários podem impedir o progresso.

A obesidade se desenvolve ao longo da vida. A vulnerabilidade ao peso corporal não saudável pode se desenvolver no início da vida e, portanto, as medidas preventivas devem começar cedo. O relatório da The Food Foundation publicado em 2 de fevereiro de 2023 coloca a prevenção no centro e encoraja os formuladores de políticas a incluir a pré-concepção e a gravidez nas políticas relacionadas a alimentação e obesidade, pois esses são momentos cruciais para a trajetória de crescimento saudável de uma criança. Crianças com obesidade têm cinco vezes mais chances de terem obesidade na idade adulta. No entanto, é essencial adotar uma abordagem de curso de vida e continuar apoiando uma alimentação saudável e atividade física mais tarde na vida. 70% dos adultos com obesidade não tinham obesidade na infância, e a prevalência da obesidade aumenta com a idade, com mais da metade dos adultos de meia-idade apresentando sobrepeso ou obesidade em muitos países.

É importante ressaltar que, além de aplicar uma abordagem de curso de vida, as intervenções políticas devem visar os determinantes ambientais e comerciais fundamentais da má alimentação, abordar as desigualdades alimentares e alcançar sistemas alimentares sustentáveis. O chamado ambiente obesogênico, no qual alimentos ricos em energia e de baixa qualidade nutricional continuam sendo a opção mais barata e são promovidos de forma desproporcional, impulsiona a epidemia de obesidade. Hoje em dia, o ambiente obesogênico também é digital, com, por exemplo, o marketing digital de produtos alimentares não saudáveis ​​para crianças.

Determinantes comerciais continuam sendo uma barreira crucial para o progresso, conforme destacado na série da revista Lancet sobre amamentação, de 2023. A amamentação reduz o risco de obesidade, mas menos da metade das crianças em todo o mundo são amamentadas conforme recomendado pela OMS, enquanto o consumo de fórmulas lácteas comerciais não oferece os mesmos benefícios à saúde que a amamentação. As vendas de fórmulas lácteas comerciais dispararam devido a táticas de marketing que prejudicam a amamentação e exploram as emoções dos pais. Os fatores estruturais moldam as escolhas e exacerbam as desigualdades de saúde existentes.

É imperativo entender a obesidade com suas complexidades e mudar as perspectivas. Isso inclui lidar com a culpa, o estigma do peso e a discriminação que muitas vezes mancham a narrativa usada em torno da obesidade; criar um ambiente que apoie os indivíduos no desenvolvimento e manutenção de uma alimentação saudável e atividade física ao longo da vida; e desafiar, de forma sincera e inequívoca, os determinantes comerciais que influenciam a produção e disponibilidade de alimentos, mas também os padrões de transporte ou trabalho. Abordar a obesidade é muito mais do que um desafio para a saúde pública, é também um desafio político – fundamental para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em particular o Objetivo 3: garantir uma vida saudável e promover o bem-estar para todas as pessoas em todas as idades. Além disso, existem sinergias e complementaridades com outros objetivos, como as alterações climáticas e a inclusão social. Portanto, é crucial que governos e líderes políticos desafiem o foco simplista e estigmatizante nas escolhas individuais e enfrentem os fatores sociais, econômicos e comerciais mais amplos que influenciam o peso, a saúde e o bem-estar.

Tradução do editorial “Obesity prevention: changing perspectives

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