Influência da segurança na vizinhança e do ambiente construído na obesidade infantil

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A segurança ao redor das moradias, espaços públicos em condições adequadas para realização de atividade física e ambientes alimentares têm sido associados à obesidade. Os ambientes são considerados como obesogênicos quando podem acarretar maior risco de ganho de peso, pelo estímulo a um comportamento sedentário e hábitos alimentares não saudáveis.

Diante da hipótese de atuação em conjunto destes fatores na obesidade infantil, um estudo realizado com crianças de Belo Horizonte objetivou a análise do efeito isolado e combinado de medidas de segurança, ambiente alimentar e atividade física na localidade em que as crianças residiam e papel da condição socioeconômica, as quais estavam submetidas, na obesidade.

A população do estudo foram crianças de 9 a 10 anos matriculados na rede municipal de ensino, no quarto ano do ensino fundamental. A amostra foi calculada com base na listagem fornecida pela secretaria de educação do município. A coleta de dados ocorreu de agosto de 2014 a maio de 2015 e o Censo de 2010 foi a base para a avaliação do território.

O registro escolar forneceu as informações sobre sexo, data de nascimento, moradia e número de telefone fixo; e os pais e responsáveis, por meio inquérito telefônico, forneceram as informações de renda familiar mensal e número de moradores por domicílio. Foi realizada avaliação antropométrica dos indivíduos em ambiente escolar para cálculo do IMC (foram consideradas com obesidade crianças com escore z superior a +2).

As variáveis ambientais avaliadas foram: rendimento médio mensal por residência, disponibilidade de parques públicos (espaços públicos como praças e jardins da cidade) e equipamentos para prática de esportes (campos de futebol, playgrounds, piscinas de skate, quadras de tênis, trilhas, entre outros), disponibilidade de ponto de venda de alimentos e taxas anuais de criminalidade e acidentes de trânsito. As variáveis taxa de insegurança ambiental e índice de estabelecimentos que comercializam majoritariamente alimentos ultraprocessados foram base para construção da variável ambiente obesogênico. A localização dos endereços e das variáveis ambientais foi geocodificada e georreferenciada e foram construídos buffers euclidianos com raio de 1000 m, considerados como o entorno social e físico de cada residência.

Dos 707 estudantes avaliados, 12,2% apresentavam obesidade. As crianças com obesidade registraram maior renda familiar média per capita. As crianças de famílias com maior renda residiam em ambientes com maior insegurança na vizinhança (maiores índices anuais de criminalidade e acidentes de trânsito) e maior índice de estabelecimento que comercializavam predominantemente ultraprocessados.  Os indivíduos de famílias de menor renda e que viviam em ambiente obesogênico apresentavam 2,37 vezes mais chances de desenvolvimento de obesidade. Os resultados indicam que a desigualdade socioeconômica está associada à maior chance de desenvolvimento de obesidade. Ademais, o estudo apontou que, para ambientes considerados mais seguros, parques e espaços para atividade física foram fatores de proteção contra obesidade infantil.

Os resultados deste estudo apontaram para relevância de analisar as variáveis associadas, devido às variáveis relacionadas à criminalidade, acidentes de trânsito, disponibilidade de parques públicos e espaços para a prática de atividade física e índice de estabelecimentos que vendem predominantemente alimentos ultraprocessados não terem apresentado associação com a obesidade quando observadas separadamente. Contudo, a partir da combinação destas variáveis houve associação com obesidade.

Os autores sugerem que os parques e espaços para atividade física foram fatores de proteção contra obesidade infantil em locais com menores taxas de insegurança e que para os indivíduos em condições socioeconômicas mais baixas, o ambiente obesogênico exerceu maior influência no desfecho de obesidade.

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