Amamentação e as alterações longitudinais do índice de massa corporal na infância e na idade adulta: uma revisão sistemática

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O sobrepeso e a obesidade são problemas de saúde reconhecidos globalmente. A etiologia da obesidade é multicausal e, dentre os determinantes conhecidos, destaca-se a alimentação. Neste sentido, o aumento da prevalência de indivíduos com obesidade é reflexo das alterações na alimentação que podem ocorrer, inclusive, no início da vida, como introdução de fórmulas infantis em detrimento do aleitamento materno. Em contrapartida, há evidências de que o aleitamento materno possa estar relacionado à diminuição do risco de desenvolvimento de obesidade.

Devido ao atual interesse em publicações com abordagens longitudinais sobre o aleitamento materno e desenvolvimento de obesidade, um artigo teve como objetivo resumir sistematicamente os estudos publicados até março de 2023 que avaliaram o papel do aleitamento materno no índice de massa corporal (IMC).

Foram incluídos na revisão sistemática artigos que relataram a associação entre amamentação e IMC e o escore-z do IMC, com ao menos três pontos no tempo. Foram considerados elegíveis ensaios clínicos aleatorizados e estudos de coorte prospectivas. Os ensaios clínicos poderiam abordar intervenções de promoção ao aleitamento materno, comparando-o a outros tipos de alimentação, como fórmulas. Em relação aos estudos de coorte, foram incluídos aqueles que avaliaram o aleitamento materno em comparação a outros tipos de alimentação ou a duração do aleitamento materno como exposição. As buscas foram limitadas em estudos realizados em seres humanos e em língua inglesa. Foram excluídos estudos com crianças com baixo peso ao nascer (1.500g), com condições ou doenças graves, distúrbios endócrinos ou metabólicos.

Ao todo foram considerados elegíveis 27 estudos para compor a revisão, destes 3 estudos eram ensaios clínicos aleatorizados e 24 eram estudos de coorte. Estes estudos foram realizados em países da Europa, região Ásia-Pacífico e da América do Norte. Dentre suas características, pode ser destacar, entre os ensaios clínicos, que os 3 estudos tinham como amostra crianças saudáveis, a termo e acompanhadas dos 12, 18 e 24 meses, e sua finalidade foi a avaliação do impacto da promoção ao aleitamento materno em mudanças do IMC; e a comparação de crianças amamentadas com diferentes tipos de fórmulas (com alto, baixo teor proteico e enriquecidas com compostos bioativos) ao aleitamento materno.

Os estudos de coorte avaliaram a alimentação ofertada a criança (amamentação em comparação a outros tipos de alimentação) e duração da amamentação. Dentre as perspectivas abordadas por estes artigos, foram observados o tempo de duração de amamentação exclusiva, bem como a comparação a outros tipos de alimentação. Cabe a ressalva de que não houve consenso entre os artigos na adoção da definição da amamentação exclusiva. Quanto ao estado nutricional, os estudos adotaram índice de massa corporal (IMC) e uso do escore-z do IMC. A idade de participantes das amostras que compunham as pesquisas abrangia de 7 meses a 17 anos.

Os resultados apresentados por dois ensaios clínicos que compararam as trajetórias de IMC de lactentes amamentados e alimentados com fórmula foram considerados inconsistentes. No entanto, um estudo constatou que lactentes alimentados com fórmula infantil com alta concentração de proteínas apresentaram escore-z mais altos aos 6, 12 e 24 meses, em comparação ao grupo que foi amamentado.

Entre os estudos de coorte que avaliaram a associação do aleitamento materno com IMC ou escore-z em comparação a outros tipos de alimentação, nove estudos encontraram que os grupos de amamentação exclusiva ou que os lactentes tinham o aleitamento materno como alimento predominante aos 3, 4, 6 e 12 meses mostraram que IMC ou escore-z apresentavam com valores mais baixos, em uma tendência temporal, as taxas de crescimento do IMC mais lentas e apresentavam menores chances de apresentar um IMC mais alto ao longo do tempo. Dois não encontraram evidências da associação entre a amamentação exclusiva e com alimentação complementar (ou não) e outros tipos de alimentação na tendência temporal do escore-z.

Em 15 estudos que identificaram associação entre a duração da amamentação e acompanharam o IMC ou escore-z em um período, 12 relataram que um período mais longo na amamentação estava relacionado a taxas mais baixas de IMC e escore-z. Três estudos não relataram efeitos protetores de uma duração mais longa da amamentação, quando relacionados a evolução das taxas de IMC. Outros 2 estudos não encontraram evidências sobre a duração da amamentação exclusiva ou não sobre evolução do IMC.

As evidências produzidas a partir dos estudos de coorte evidenciam que crianças que foram exclusivas ou predominantemente amamentadas entre 3 e 6 meses de idade apresentaram taxas de IMC mais baixa do que aquelas que foram alimentadas com fórmula ou com outro tipo de alimentação. Segundo os apontamentos desses estudos, a amamentação, exclusiva ou não, mostra-se associada ao IMC. Quanto aos ensaios clínicos, o impacto não pode ser inferido devido à curta duração de acompanhamento e aos resultados inconclusivos dos estudos selecionados.

Há na literatura algumas evidências sobre um possível efeito dose-resposta em relação a duração da amamentação e o risco de obesidade, no entanto, esta revisão relatou resultados considerados inconsistentes para esta hipótese.

Este estudo tem como ponto forte a utilização de trabalhos com delineamentos longitudinais, seleção de estudos com populações de diferentes países, origens étnicas e diferentes condições socioeconômicas. No entanto, não foi possível com esta análise estabelecer uma relação de causalidade entre a exposição e o desfecho de interesse. Cabe a ressalva em relação à utilização do IMC para monitoramento do estado nutricional em crianças, pois seu uso se difere em adultos e são utilizados na infância escore-z específicos com pontos de corte para sobrepeso e obesidade, que podem divergir conforme os objetivos da pesquisa em questão e avaliação clínica.

O estudo concluiu que as crianças que foram amamentadas apresentaram velocidade de aumento das taxas de IMC mais baixas do que crianças que foram alimentadas com fórmula ou de forma mista na infância. Quanto ao tempo, a duração por um período de 6 meses de amamentação exclusiva ou qualquer amamentação esteve associada a taxas de IMC mais baixas na infância e início da fase adulta. No entanto, a causalidade e aspectos relacionados a amamentação no desenvolvimento da obesidade ou composição corporal na vida adulta não foram esclarecidos.

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