Programa de promoção da alimentação adequada e saudável na atenção primária

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O consumo alimentar adequado e saudável é essencial para a saúde das populações e para os direitos humanos. No Brasil, o Programa de promoção da alimentação adequada e saudável (PAAS) envolve um conjunto de estratégias que promovem padrões alimentares adequados e saudáveis ​​para indivíduos e comunidades, de acordo com o uso sustentável do meio ambiente. No entanto, as ações do PAAS enfrentam desafios para a sua implementação que repercutem na sua eficácia, como a qualificação dos profissionais de saúde, a falta de iniciativas desenvolvidas nos serviços de saúde e de materiais instrucionais que apoiem as ações do PAAS.

Nesse sentido, um estudo conduzido em municípios de pequeno e médio porte de Minas Gerais, Brasil (Carmo do Cajuru e Nova Lima, respectivamente) teve como objetivo avaliar a eficácia do PAAS no consumo alimentar e no estado nutricional de indivíduos na atenção primária à saúde. Foi realizado um ensaio comunitário randomizado e controlado em duas unidades de atenção primária à saúde. Eram elegíveis indivíduos com 20 anos de idade ou mais que participassem de atividades coletivas sobre alimentação e nutrição. Os indivíduos foram selecionados de acordo com os critérios de cada unidade, incluindo a lista de encaminhamentos para atendimento nutricional e indivíduos em acompanhamento nutricional que poderiam se beneficiar das atividades grupais. Foram excluídas as gestantes e indivíduos com comprometimento cognitivo que os impedisse de responder aos questionários. As duas unidades foram alocadas em grupo controle (GC) (atividades tradicionais do serviço de saúde) e grupo intervenção (GI) (atividades de intervenção nutricional baseada no programa PAAS). Os profissionais do GI participaram de atividades de educação continuada para o desenvolvimento do programa PAAS e receberam orientação a distância por nutricionistas capacitados. O programa foi baseado no “Instrutivo: Metodologia de Trabalho em Grupo para Ações de Alimentação e Nutrição na Atenção Primária à Saúde” e consistiu em ações coletivas, com duração de cinco meses, compreendendo oficinas e ações de meio ambiente, além de painéis informativos, com distribuição de folders e utilização de diários de bordo pelos indivíduos.

Na unidade de Nova Lima, a coleta de dados da linha de base foi realizada de março a maio de 2017 e na unidade de Carmo do Cajuru em julho de 2019. A reavaliação ocorreu após cinco meses da intervenção em cada município e foi conduzida por entrevistadores treinados. Na linha de base e na reavaliação, foi aplicado um questionário estruturado, incluindo questões sociodemográficas (sexo, idade, estado civil, escolaridade e renda familiar), questões sobre consumo alimentar e foi realizada avaliação antropométrica. No instrumento de reavaliação foram incluídas questões sobre adesão autorreferida aos grupos (se faltou a alguma atividade e motivos da ausência). O consumo alimentar foi avaliado por meio de questionário qualitativo de frequência alimentar (QFA) dos últimos cinco meses e a lista de alimentos foi organizada de acordo com a classificação NOVA. A avaliação antropométrica incluiu a aferição de peso (kg), altura (m) e circunferência da cintura (CC) conforme recomendações do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional.

Foram incluídos 163 indivíduos no início do estudo (GI=97; GC=66), com uma perda amostral de 39,3% até a reavaliação (n=99). Os indivíduos da linha de base eram em sua maioria mulheres (85,3%), com idade média de 51 anos, com até oito anos de estudo (55,2%) e renda per capita igual ou inferior a um salário-mínimo (85,2%). Não foram encontradas diferenças sociodemográficas entre os indivíduos do GC e GI.

No início do estudo, alimentos in natura ou minimamente processados ​​eram consumidos em média 2,8 vezes/semana, alimentos processados ​​2,2 vezes/semana e alimentos ultraprocessados 1,2 vezes/semana. Mais da metade dos indivíduos avaliados apresentava consumo regular de frutas (50,9%) e hortaliças (68,1%). Houve diferença significativa apenas para o consumo de hortaliças no início do estudo em que o GI apresentou prevalência  superior ao GC (p= 0,042).

A adesão às atividades do programa PAAS foi semelhante para o GC e GI, com aproximadamente 20% dos indivíduos presentes em todas as sessões. Dentre os motivos de não adesão, os mais citados foram apoio social insuficiente e disponibilidade de tempo insuficiente. A evolução da frequência de consumo de alimentos segundo a classificação NOVA mostrou que os indivíduos do GI apresentaram aumento na frequência de consumo de alimentos in natura de 3,2 vezes/semana para 3,4 vezes/semana (p=0,044), bem como aumento de 63,7% no consumo regular de frutas (p=0,001). Foi identificada diminuição no consumo de alimentos ultraprocessados entre os indivíduos do GC (1,3 para 1,0 vezes/semana; p=0,031).  Em relação à evolução antropométrica, não foram encontradas diferenças entre os indivíduos do GC e do GI.

O programa PAAS contribuiu para o aumento do consumo semanal de alimentos in natura ou minimamente processados ​​e da frequência do consumo regular de frutas, o que mostra o potencial das ações propostas pelo Programa PAAS para promover a adesão às recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira. Assim, acredita-se que o PAAS pode ser útil para o aprimoramento das ações coletivas realizadas no Sistema Único de Saúde do Brasil, ao fornecer metodologia grupal prática e acessível aos profissionais de saúde, contribuindo para a estruturação de atividades coletivas eficazes de alimentação e nutrição na rotina dos serviços de saúde.

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