O impacto do excesso de peso no emprego

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Nas últimas cinco décadas, os níveis de obesidade aumentaram globalmente, sem que nenhum país tenha conseguido reverter essa tendência. Sabe-se que o excesso de peso, e especialmente a obesidade, constitui um fator de risco para condições de saúde que podem impactar negativamente a qualidade de vida e a capacidade de trabalhar, com consequências concomitantes no vínculo com o mercado de trabalho, estabilidade financeira e o padrão de vida geral. Estudos já apontaram que o excesso de peso está associado a desfechos negativos relacionados ao mercado de trabalho, evidenciando sua influência na empregabilidade e no desempenho profissional, no entanto, os estudos de revisão já existentes sobre este assunto apresentam limitações.

Diante disso, foi realizado um estudo de revisão sistemática das evidências disponíveis sobre o impacto causal do excesso de peso na probabilidade de emprego e no salário. Para tal, esta revisão foi conduzida e relatada de acordo com as diretrizes do PRISMA. As seguintes bases de dados foram pesquisadas: Econ Lit e Web of Science, de 1º de janeiro de 2010 a 20 de janeiro de 2023. Foram incluídos estudos de análises longitudinais, estudos ecológicos ou estudos transversais que empregaram estratégias de identificação, como a abordagem de Variáveis Instrumentais baseada em Randomização Mendeliana.

A busca resultou em um total de 4.321 estudos potencialmente relevantes. Após a retirada de duplicatas e triagem por um revisor, 59 estudos atenderam aos critérios de inclusão e foram revisados ​​qualitativamente pelos autores. A maioria dos estudos incluídos foi conduzido nos EUA, seguido pelo Reino Unido, Alemanha, Finlândia e países não pertencentes à União Europeia.

As comparações dentro de cada estudo foram feitas entre sobrepeso e obesidade versus peso normal quando o excesso de peso foi medido como uma variável categórica. Além disso, também foram feitas comparações entre empregos que exigem interação social versus empregos que não exigem, e entre aqueles que recebem baixos salários versus aqueles que recebem altos salários. Por fim, a qualidade metodológica utilizada foi avaliada.

Entre os resultados principais, as evidências dos estudos incluídos sugerem que o efeito do excesso de peso difere por gênero, etnia, país e período de tempo. Foi identificado que o excesso de peso tem um impacto variável nos desfechos de emprego e salário, com uma penalização mais acentuada entre mulheres brancas em países de alta renda, onde o peso corporal mais elevado reduziu a probabilidade de emprego e, se empregadas, essas mulheres recebiam salários mais baixos. O resultado oposto ocorreu entre mulheres em países de baixa renda. Este efeito pode ser explicado por duas hipóteses principais: a de causalidade, em que o excesso de peso leva a uma menor produtividade ou discriminação, e a de seleção, que sugere que indivíduos com excesso de peso tendem a se selecionar para empregos de baixo salário ou precários.

No entanto, muitos estudos apresentam viés de seleção, uma vez que a seleção dos indivíduos para o emprego ou a definição dos salários não é aleatória, e poucos estudos abordam de maneira adequada essa questão. Além disso, a maioria dos estudos se concentra em países de alta renda, com pouca investigação sobre os efeitos do excesso de peso em países de baixa e média renda, onde o impacto pode ser oposto, com um possível efeito positivo do excesso de peso no mercado de trabalho. Entre os homens, não houve efeito do excesso de peso nos desfechos do emprego ou a magnitude do efeito foi muito menor ou até mesmo positiva em alguns casos.

Em suma, esta revisão mostrou que, apesar de haver diversas pesquisas sobre a relação entre excesso de peso e desfechos de emprego e salários, evidências causais robustas permanecem escassas e dependem significativamente de fortes suposições estatísticas e teóricas. Portanto, mais pesquisas sobre essas relações fora do contexto dos EUA e da Europa Ocidental são necessárias.

 

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